Uma recente discussão levantada pela Associação Japonesa de Animação (AJA) reacendeu o debate sobre como o modelo de pagamento fixo adotado pela Netflix e outras plataformas de streaming pode estar impactando negativamente a indústria de anime. Segundo a AJA, esse sistema — que paga aos estúdios uma quantia fixa sem bônus de royalties baseados no sucesso das séries — está limitando os ganhos potenciais dos animes, afetando diretamente os criadores.
O Modelo de Pagamento Fixo: Ajudando ou Prejudicando?
O sistema de pagamento adotado pela Netflix visa garantir que os estúdios e produtores recebam uma quantia fixa por seus projetos. Isso significa que, independentemente do sucesso de uma série, o valor a ser pago permanece o mesmo, sem acréscimos baseados na popularidade do anime. O CEO da Netflix, Ted Sarandos, defendeu esse modelo, argumentando que ele oferece estabilidade financeira, permitindo que os criadores foquem em sua arte sem se preocupar com riscos comerciais.
No entanto, a crítica da AJA é que essa quantia fixa acaba beneficiando mais os comitês de produção (investidores e distribuidoras) do que os animadores e freelancers responsáveis pelo trabalho criativo. Segundo a animadora Terumi Nishii (Jujutsu Kaisen 0), apesar de o valor oferecido pela Netflix ser mais alto do que o padrão da indústria, ele não chega diretamente aos animadores, que continuam a enfrentar salários baixos e prazos desafiadores.
Condições de Trabalho e Falta de Incentivo
O modelo de pagamento fixo ignora o sucesso da série após seu lançamento, o que, segundo a AJA, limita o potencial de crescimento da indústria de anime. Mesmo que um anime se torne um sucesso global, os estúdios e profissionais não recebem nenhum bônus adicional pelo impacto e alcance da série, algo que poderia ser revertido para melhorar as condições de trabalho, salários e qualidade dos projetos futuros.
Além disso, a falta de acesso aos dados de audiência impede que estúdios e criadores entendam o alcance de suas obras, limitando a capacidade de negociação de renovações e licenciamento. Para a AJA, essa falta de transparência impede que a indústria de anime explore todo o seu potencial comercial no mercado global.
Resposta da Netflix e Futuro da Indústria
Em resposta às críticas, a Netflix afirma estar implementando medidas para melhorar a transparência nos custos de produção, exigindo relatórios detalhados de cada fase do processo e promovendo auditorias para evitar despesas desnecessárias. Mesmo assim, a falta de repasses adicionais quando um anime se torna popular ainda é uma grande preocupação para muitos na indústria.
Este modelo atual de pagamento fixo da Netflix pode ser um caminho de segurança para os investidores, mas, para os estúdios e animadores, ele representa um obstáculo para o crescimento e a melhoria das condições de trabalho. Com a expansão dos animes no mercado global, a busca por uma compensação justa e sustentável é essencial, e a pressão por mudanças na indústria só deve aumentar.
Conclusão: Enquanto a Netflix defende seu modelo como uma forma de estabilizar os ganhos dos estúdios, o debate continua. A pergunta que fica é: até que ponto esse modelo é realmente benéfico para os criadores e o futuro dos animes?